Platão, a cultura do medo e os microchips
Por Tárcio M. Fabrício
O filósofo Platão, no célebre ensaio “Alegoria da caverna”, discutia a concepção de realidade e a dualidade entre Bem e Mal na condição humana. Hipotéticamente, previa a existência de uma caverna habitada por alguns prisioneiros, os quais eram obrigados a permanecer imóveis, de costas para a entrada do imenso salão. Por muito tempo observavamm apenas sombras do mundo exterior, projetadas no paredão a sua frente.Para tais homens, aquelas imagens representavam a sua realidade, o seu mundo. A qualquer incauto, de fora da caverna, que tentasse convencer os encarcerados de que a realidade era diferente, estariam destinadas as mais severas punições e a mais vil das incredulidades.Após séculos, o pensamento do filósofo fundador da Academia é um retrato fiel das concepções humanas da realidade, demonstrando toda a amplitude de sua argumentação. Na sociedade atual, os meios de comunicação, capitaneados principalmente pelas redes de televisão, representam fidedignamente a parede da caverna, enquanto o Homo sapiens continua preso às amarras, impedido de olhar a sua volta.Tudo quanto lhe é apresentado, como que num efeito hipnótico, passa rapidamente a ser encarado como a mais pura verdade. Como agravante dessa situação, observa-se a concentração das empresas de comunicação e em geral uma mesma orientação ideológica e econômica em todas elas.São os donos desses meios, os juízes, com o poder de decidir o que deve ou não ser exibido ao povo. No caso do Brasil, é freqüente a exploração da violência como notícia. A alta exposição a esse tipo de conteúdo, gera alienação e apatia popular. Em recente estudo divulgado, psicólogos afirmam que os jovens brasileiros se tornaram mais individualistas e menos comprometidos com questões sociais, graças ao fenômeno da cultura do medo.Nas grandes e médias cidades, as pessoas evitam sair de suas casas. Preferem utilizar meios de transportes individuais e alteram seus hábitos de consumo graças ao pavor exercido pelo fenômeno.Há alguns anos, como forma de manipulação política, a maior e mais importante rede de televisão do país começou uma campanha implícita de destruição da imagem do Rio de Janeiro. A todo momento, os noticiários expunham cenas de traficantes em confronto com a polícia, cenas de uma verdadeira guerra civil.Em pouco tempo o fluxo de turistas na cidade diminuiu drasticamente. Entretanto, qualquer habitante da cidade, questionado sobre a violência urbana, afirma que o problema, apesar de grave, não é tão diferente do enfrentado em outras metrópoles, mas infelizmente o rótulo já pegou.Outro caso de tal culto a violência, foi na recente crise da segurança pública do estado de São Paulo. O pânico foi instaurado, com o fomento de boatos e informações infundadas, pela imprensa, acerca de ataques do PCC, a ponto de paralisar a maior cidade do país. Feito isso, abriu-se caminho para a atuação de grupos de extermínio do próprio Estado.Sem testemunhas, com as ruas desertas, a polícia realizou um verdadeiro banho de sangue. Executando a esmo qualquer pessoa, leia-se negro e pobre, que estivesse fora de casa e levantasse alguma suspeita, a intimidação do poder governamental surtiu efeito e rapidamente a mídia mudou seu enfoque a outro tema vendável.Uma nova perspectiva, no entanto, se vislumbra como alternativa a tal manipulação midiática. A implantação no país, do novo sistema de televisão digital, tem como um dos seus principais objetivos a democratização dos meios de comunicação audiovisuais.Com a possibilidade tecnológica oferecida pelo sistema e a vontade política na distribuição de concessões de novos canais a empresas de perfis diferenciados, abre-se a oportunidade para visões e enfoques diversos de programação. Partindo desse pressuposto, pode-se alcançar a efetiva representação dos mais diferentes setores da sociedade mostrando distintas realidades sociais e deixando de se pensar na notícia apenas como mercadoria.Vários aspectos da implantação do novo sistema ainda devem ser discutidos, em uma ampla consulta popular e técnica, visto que é apenas o início de um processo. Um novo ciclo que se inicia, podendo representar um avanço na relação da mídia com seu público alvo.Aos mais otimistas, eis o surgimento de uma força libertadora, a qual utilizando-se de microchips e outros acepipes tecnológicos, romperá as correntes e libertará todos os enclausurados da caverna de Platão.
O Jornalista e o analfabeto
Por Tárcio M. Fabrício
Os primeiros resultados alcançados no levantamento do perfil dos meios de comunicação da região de Araraquara, indicam claramente uma forte relação entre o nível de escolaridade e a quantidade dos veículos, bem como de profissionais envolvidos na elaboração dos produtos jornalísticos.
Realizada pelos alunos do curso de Jornalismo do Centro Universitário de Araraquara, UNIARA, sob coordenação do Prof. Luiz Carlos Messias, a pesquisa levantou dados de 44 veículos em 9 municípios diferentes.
No confronto entre as variáveis obtidas na pesquisa, o número de veículos de comunicação e de profissionais do ramo, apresentou uma relação diretamente proporcional a média do número de anos de estudo da população. Em contrapartida, essa relação se mostrou inversamente proporcional quando pareada ao índice de analfabetismo das cidades estudadas.
Os resultados obtidos confirmam, em bases científicas, uma hipótese lógica, remetendo, entretanto, a um questionamento acerca da postura dos profissionais de jornalismo diante de tal fato. Em um país de extrema desigualdade social, é inadmissível a passividade observada nos meios de comunicação diante de um quadro tão alarmante.
O questionamento e a cobrança por uma melhor qualidade na educação, deveriam pautar a todo o momento a atuação dos profissionais de comunicação. Além de questão ética, norteadora de uma sociedade mais digna, a melhoria do nível educacional teria reflexos econômicos imediatos aos próprios profissionais.
Como demonstrado na pesquisa, o mercado poderia obter crescimento, proporcionando maior competição entre as empresas; gerando mais vagas no setor; aumentando a qualidade da notícia e, acima de tudo, firmando em bases sólidas o acesso a informação.
A partir dessa consolidação, a imprensa fomentaria ainda mais o aumento nos níveis de desenvolvimento humano, estabelecendo junto à sociedade, um sistema de retro alimentação material e cultural.
Realizada pelos alunos do curso de Jornalismo do Centro Universitário de Araraquara, UNIARA, sob coordenação do Prof. Luiz Carlos Messias, a pesquisa levantou dados de 44 veículos em 9 municípios diferentes.
No confronto entre as variáveis obtidas na pesquisa, o número de veículos de comunicação e de profissionais do ramo, apresentou uma relação diretamente proporcional a média do número de anos de estudo da população. Em contrapartida, essa relação se mostrou inversamente proporcional quando pareada ao índice de analfabetismo das cidades estudadas.
Os resultados obtidos confirmam, em bases científicas, uma hipótese lógica, remetendo, entretanto, a um questionamento acerca da postura dos profissionais de jornalismo diante de tal fato. Em um país de extrema desigualdade social, é inadmissível a passividade observada nos meios de comunicação diante de um quadro tão alarmante.
O questionamento e a cobrança por uma melhor qualidade na educação, deveriam pautar a todo o momento a atuação dos profissionais de comunicação. Além de questão ética, norteadora de uma sociedade mais digna, a melhoria do nível educacional teria reflexos econômicos imediatos aos próprios profissionais.
Como demonstrado na pesquisa, o mercado poderia obter crescimento, proporcionando maior competição entre as empresas; gerando mais vagas no setor; aumentando a qualidade da notícia e, acima de tudo, firmando em bases sólidas o acesso a informação.
A partir dessa consolidação, a imprensa fomentaria ainda mais o aumento nos níveis de desenvolvimento humano, estabelecendo junto à sociedade, um sistema de retro alimentação material e cultural.